Espaço aberto para a divulgação da Literatura de Cordel e afins.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

HOMENAGEM A ZÉ LIMEIRA


Vou escrever esses versos
Em honra a Zé Limeira
O poeta do absurdo
Que nunca falou besteira
Pois na sua poesia
Esbanja sabedoria
Tudo em tom de brincadeira

Ele sempre escrevia
Com humor e perfeição
Misturando os assuntos
Que não tinham ligação
Desta forma eu vou fazer
Por isso peço a você
Preste muita atenção

Ancorei o meu navio
No deserto do Saara
Era quase meio dia
E a lua estava clara
Foi tão grande o meu espanto
Olhando pra todo canto
Vendo beleza tão rara

Preparei o desembarque
Com toda tripulação
Todos estavam vestidos
De perneira e de gibão
Eu tinha punhal de prata
Camiseta e gravata
Pois eu era o capitão

Logo ao desembarcar
Tinha um táxi esperando
Bem na beira do açude
Sobre a balsa flutuando
Lembrei-me de um evento
Soltando a voz no vento
Quando eu vivia aboiando

Ao chegar à terra firme
Eu fiquei muito contente
Ia agora desfrutar
Do que tinha o continente
Cachaça e mulher bonita
Cair na farra infinita
Esquecer a dor de dente

Imagine a alegria
De um peão navegador
Viajando de navio
Sendo um desbravador
Cruzando todas as matas
Calçado de alpargatas
Feito um conquistador

E depois da emoção
Sem prever nenhum combate
Minha fome era grande
Resolvi comer tomate
Subi num pé de laranja
Para ver o que se arranja
Tinha muito abacate

Essa fruta era doce
Feito suco de limão
Sua casca era grossa
Como cururu rodão
Sua carne era macia
E tão fácil ela descia
Que nem pluma de algodão

Só mesmo você provando
Pra saber o seu sabor
Inda hoje fecho os olhos
E vejo a sua cor
Amarelo avermelhado
Com o miolo encarnado
Transparente, incolor

Tendo saciado a fome
Fui conhecer a cidade
Peguei minha bicicleta
Saí em velocidade
Em tantas ruas passei
Se perguntarem, não sei
A sua totalidade

Apreciei muita coisa
Enquanto eu pedalava
Cachorro roendo osso
E a moça que cantava
Papagaio na gaiola
E o disco na vitrola
Que há tempos não tocava

Caminhava lentamente
O vento soprava forte
Para pegar uma gripe
Nem precisava de sorte
Eu queria era saber
Onde foi se esconder
Meu alicate de corte

Quando achei o alicate
Cortei logo a energia
Ficou tudo tão escuro
Parecendo o meio dia
Veio o eletricista
Feito um equilibrista
Padre nosso, Ave Maria

Quando a luz retornou
É que a coisa ficou preta
Pois olhei para as pessoas
E então só vi careta
Fazia tanto calor
Do chão saía vapor
Foi notícia na Gazeta

Retomei o meu caminho
Agora seguindo a pé
Vi um porco todo preto
E o galo do Seu Zé   
Vinham andando em paralelo
Os dois comiam farelo
Jesus, Maria e José

A cidade era pequena
Tinha só um quarteirão
Tinha fogueiras acesas
Era noite de São João
Eu peguei meu parabelo
A enxada e o martelo
E liguei pra Lampião

Ele então me respostou
Com um tiro de canhão
Ficou tudo iluminado
O estouro fez clarão
Quando li o seu torpedo
Cheguei a ficar com medo
Com o celular mão

A mensagem era clara
E nela ele dizia
Aceitava o convite
Pois muito gosto fazia
De entrar naquela festa
Junto de gente honesta
Isto muito lhe aprazia

Eu então lhe confirmei
Que a festa era boa
Se ele ali viesse
Não ia ficar à toa
São João é santo bom
Boca linda tem batom
Chuva fina é garoa

Depois de tudo acertado
Eu entrei no cabaré
Pois eu sou desconfiado
Sou igual a São Tomé
É preciso eu tocar
Pra poder acreditar
Faca, garfo e talher

A festança foi bonita
Lampião trouxe seu bando
Eu tinha a tripulação
Todo mundo só dançando
Tinha cerveja gelada
Tira gosto e panelada
Uísque de contrabando

De repente nessa festa
Uma grande aparição
Patativa do Assaré
Tinha um verso na mão
Ariano Suassuna
Escorado na coluna
Disse coisas do sertão

Quando a festa acabou
Preparei-me pra voltar
Escrever este cordel
Para a história contar
E não foi de brincadeira
Ela é pura e verdadeira
Acabei de inventar.

Um comentário:

  1. Augusto, meus parabéns
    Pelo Varal do Cordel.
    Eu também tenho o meu blog
    Que tem versos a granel.
    A nossa cultura rica,
    Aqui a gente publica
    Sem sequer gastar papel.

    Abçs,
    PPP

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